ASPECTOS INICIAIS
Regurgitações são movimentos de eliminação do conteúdo gástrico para esôfago e boca sem associação com esforço. É um sintoma não associado ao estresse e muito frequente nos lactentes, que comumente apresentam um quadro de refluxo gastroesofágico fisiológico. Este quadro frequentemente se resolve com o tempo e desenvolvimento/amadurecimento do trato gastrointestinal.
Vômitos são também movimentos de expulsão do conteúdo gástrico através da boca, mas resultantes de um reflexo altamente coordenado, que se inicia com hipersalivação, ânsia de vômito involuntária, violento abaixamento do diafragma e contração dos músculos abdominais com relaxamento da cárdia. Todo este processo é coordenado pelo centro do vômito, localizado na área postrema do tronco cerebral. Perceba: vômitos implicam esforço e algum grau de estresse.
ETIOLOGIA
As principais causas que podem levar ao desenvolvimento de vômitos variam em função da faixa etária, como mostrado na Tabela 25.
REFLUXO GASTROESOFÁGICO FISIOLÓGICO — REGURGITAÇÕES INFANTIS
DEFINIÇÃO
O Refluxo Gastroesofágico (RGE) é o retorno passivo de conteúdo gástrico para dentro do esôfago. Pode ter um caráter fisiológico e ocorrer em crianças e adultos, não estando associado a qualquer doença e não provocando qualquer consequência clínica. Nos adultos o RGE ocorre, eventualmente, após as refeições, sendo assintomático na maioria das vezes. Nos recém-nascidos e lactentes, o RGE é mais frequente e mais sintomático, manifestando-se através de regurgitações.
FISIOPATOLOGIA
Nos primeiros meses de vida, a competência do Esfíncter Esofágico Inferior (EEI) é deficitária, permitindo o refluxo do conteúdo gástrico. Nesta fase da vida, a pressão do EEI é baixa, alcançando os valores de adulto apenas com seis a sete semanas de vida. Essa pressão reduzida se deve a fatores como: menor massa muscular funcionante do esôfago e estruturas circunvizinhas e comprimento reduzido do esôfago abdominal. Além disso, os mecanismos de clareamento esofágico também são deficientes, pois: 1) o efeito protetor gravitacional é perdido com a predominante postura de decúbito horizontal; 2) o peristaltismo é imaturo; e 3) a produção de saliva é baixa. Com base no exposto, percebemos porque o refluxo gastroesofágico é um evento tão frequente nos recém-nascidos e lactentes. Vamos rever estes mecanismos com mais detalhes ao estudarmos a doença do refluxo gastroesofágico em alguns parágrafos.
CLÍNICA E PROGNÓSTICO
O quadro clínico é de um lactente saudável, com estado nutricional preservado, que inicia um quadro de refluxo mais evidente entre dois e quatro meses de vida, com tendência a melhora a partir do 2º semestre de vida e resolução entre um e dois anos. O refluxo ou regurgitação fisiológicos podem ocorrer de uma a diversas vezes ao dia, geralmente com volumes pequenos (15–30 ml). A frequência das regurgitações é variável, mas não há outros sintomas ou sinais importantes associados, mantendo ganho ponderal satisfatório.
Esta história evolutiva obedece ao progressivo amadurecimento dos mecanismos antirrefluxo com o passar da idade, adoção da postura ereta facilitando a ação da gravidade e modificação da consistência alimentar, que deixa de ser líquida predominantemente e torna-se pastosa a sólida. Cerca de 80% dos lactentes têm os episódios de regurgitação resolvidos aos seis meses e 90% aos doze meses.
Vejam os critérios diagnósticos para os quadros de regurgitação infantil, como proposto na classificação de Roma IV (Tabela 26).
TRATAMENTO
TRANQUILIZAÇÃO DOS PAIS
Garantir aos pais a transitoriedade do quadro e a sua ausência de complicações em longo prazo. A exposição passiva ao fumo deve ser coibida, posto que aumenta os episódios de RGE.
POSTURAL