ASPECTOS GERAIS
- De todas as doenças estudadas nesta apostila, esta é a que você está mais familiarizado, por ser tema recorrente em provas e comum na prática, nem sempre como caso confirmado, mas pelo menos na lista de diagnóstico diferencial de quadros febris atendidos em pronto-socorro pediátrico. Mesmo que você já tenha lido esse assunto diversas vezes, aproveite este momento para sedimentar conhecimentos a respeito desta doença tão temida por pais e familiares.
- A meningite é definida como inflamação das leptomeninges, que são os tecidos que circundam o cérebro e a medula espinhal (Figura 1_). Esse processo inflamatório é evidenciado por pleocitose no liquor (aumento do número de leucócitos), que pode ser de causa infecciosa ou não. Dentre as causas infecciosas, diversos são os agentes que podem penetrar o Sistema Nervoso Central (SNC) e causar meningite, como bactérias, vírus, parasitas e fungos.
- Nosso foco aqui serão as meningites virais e bacterianas, as mais importantes do ponto de vista de saúde pública, já que são frequentes durante todo o ano (ou seja, são doenças endêmicas no Brasil) e têm grande potencial para causarem surtos e epidemias ocasionais.
- Mesmo com antibióticos eficazes disponíveis, a meningite bacteriana continua sendo importante causa de morbimortalidade em todo o mundo e a mortalidade é de 100% nos casos não tratados.
- Atenção: meningite é doença de notificação compulsória, sendo os surtos e os aglomerados de casos ou óbitos, de notificação imediata!
EPIDEMIOLOGIA E ETIOLOGIA
- Entre 2007 e 2020, foram confirmados mais de 265 mil casos de meningite infecciosa no Brasil, sendo aproximadamente 45% de etiologia viral e 30% bacteriana. Em todo o mundo, são estimados mais de 1,2 milhão de casos de meningite bacteriana por ano.
- Esse número era muito maior antes da introdução das vacinas contra Hib (1999) e pneumococo (2010) no calendário vacinal, que reduziu drasticamente a ocorrência de casos, mudando inclusive o perfil epidemiológico: o Hib era o 2° principal causador de meningite no Brasil, tendo uma redução acima de 90% após a era vacinal.
- As meningites bacterianas são mais comuns no inverno, enquanto que as virais predominam no verão.
ETIOLOGIA VIRAL
- A meningite causada por vírus é muito mais comum do que por qualquer outro agente infeccioso.
- O grupo dos enterovírus, com mais de 70 sorotipos identificados, é o principal responsável pela infecção do SNC. Fazem parte deste grupo os poliovírus, echovirus, diversos tipos de coxsackie A e B, entre outros.
- Os herpesvírus são os principais responsáveis por quadros de meningoencefalite, que pela lesão associada do parênquima cerebral, cursam com maior gravidade do que quadros de meningite isolada.
- Outros vírus que podem causar meningite são varicela-zóster, citomegalovírus, caxumba, sarampo, dengue e outras arboviroses.
ETIOLOGIA BACTERIANA
- O agente bacteriano responsável pela meningite varia em função de fatores do hospedeiro, principalmente de acordo com a idade e a situação vacinal. Em crianças maiores de três meses, os principais agentes são Neisseria meningitidis* (principal causa de meningite bacteriana no Brasil e em crianças maiores de dez anos nos EUA), Streptococcus pneumoniae* (principal causa de meningite bacteriana em crianças abaixo de dez anos nos EUA) e Haemophilus influenzae B.
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ATENÇÃO
- Em menores de três meses, Streptococcus do grupo B, Escherichia coli e Listeria monocytogenes são germes comumente encontrados.
- Lembre-se daquilo que vimos há várias semanas no estudo das imunodeficiências primárias: a deficiência de componentes do sistema complemento (C5–C8) se correlaciona com maior risco para o desenvolvimento das infecções meningocócicas recorrentes. Tal informação pode estar presente em um enunciado e reforçar a sua suspeita diagnóstica.
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FISIOPATOLOGIA