CONCEITOS INICIAIS
Há algumas semanas conversamos sobre as bases fisiológicas do crescimento, bem como sobre o que esperamos observar no crescimento normal de uma criança. Nosso objetivo, neste momento, é conhecer os principais distúrbios do crescimento infantil, estabelecer seus diagnósticos e saber conduzi-los de forma apropriada.
Os primeiros anos de vida representam um período especialmente vulnerável para uma série de agravos nutricionais. O aporte nutricional dos lactentes, crianças e adolescentes deve suprir necessidades para seu crescimento ponderoestatural e desenvolvimento neurocognitivo e puberal, que são muito grandes nestes períodos da vida. Os primeiros 1.000 dias (da concepção até o final do segundo ano) representam um período muito vulnerável para o estabelecimento de um quadro de desnutrição e o dano precoce ao crescimento e desenvolvimento provoca consequências futuras na saúde do indivíduo, com prejuízo na capacidade intelectual, desempenho escolar, produtividade laborativa e ganhos financeiros. Observando a Tabela 1, você pode perceber como a necessidade calórica é maior nos primeiros anos de vida. Esta é uma das razões pelas quais há maior vulnerabilidade para desnutrição nesta fase.
| IDADE | NECESSIDADE CALÓRICA (KCAL/KG/DIA) | | --- | --- | | Neonato | 120-130 kcal/kg/dia | | 3 meses | 115 kcal/kg/dia | | 6 meses | 110 kcal/kg/dia | | 12 meses | 100 kcal/kg/dia | | 3 anos | 100 kcal/kg/dia | | Escolar | 75 kcal/kg/dia | | Adolescente | 30-60 kcal/kg/dia | | Adulto | 25-30 kcal/kg/dia |
Os nutrientes que provêm energia calórica são as gorduras (9 kcal/g), carboidratos (4 kcal/g) e proteínas (4 kcal/g), e são conhecidos como macronutrientes. As vitaminas e minerais são os micronutrientes que, por sua vez, atuam em diversas vias metabólicas fundamentais na célula.
TRANSIÇÃO NUTRICIONAL Chamamos de “transição nutricional” as modificações epidemiológicas nos distúrbios nutricionais na infância nos últimos anos. Em vários países, inclusive no Brasil, houve queda na prevalência da desnutrição e aumento nos índices de sobrepeso e obesidade.
Nos últimos 25 anos, foi observada uma diminuição na prevalência de desnutrição tanto na população infantil quanto na população de adultos; isso foi observado tanto no meio urbano quanto no meio rural. Em contraposição, a frequência de obesidade em adultos triplicou no Nordeste e duplicou no Sudeste, havendo evidências de que começa a se reduzir nos estratos de renda mais elevada.
CLASSIFICAÇÃO NUTRICIONAL
Existem diversas propostas distintas para a classificação nutricional de uma criança e adolescente. A mais usada em nossa prática atual – e a mais recorrente nas provas é a do Ministério da Saúde, que iremos ver em primeiro lugar. Além disso, é interessante que você também conheça algumas classificações mais antigas, menos empregadas nos dias de hoje, mas que ainda podem ser objeto de alguns concursos.
CLASSIFICAÇÃO DO MINISTÉRIO DA SAÚDE
A atual proposta de classificação nutricional do Ministério da Saúde, endossada pela Sociedade Brasileira de Pediatria, é baseada nas curvas de crescimento da Organização Mundial de Saúde (OMS) para crianças e adolescentes de 0 a 19 anos.
A OMS, nos anos de 2006 e 2007, disponibilizou uma série de novas curvas de crescimento. Atente para o fato de que não dispomos de todos os gráficos para todas as faixas etárias. Os gráficos são construídos usando as curvas com valores de percentil e/ou escore-Z.
Tais curvas são as encontradas nas atuais versões da caderneta de saúde da criança. As curvas que iremos usar em cada faixa etária são as indicadas abaixo e, ainda que nem todas estejam na caderneta, será cobrado que você faça a classificação de todas essas formas:
A classificação completa pode ser conferida nas Tabelas 2 e 3.
CLASSIFICAÇÃO DE GOMEZ