CONCEITOS INICIAIS
INTRODUÇÃO
A adolescência é um período de transição complexo que ocupa o período entre a infância e a idade adulta, e engloba profundas modificações nos contextos físico, psicológico e social do indivíduo, e sua relação com a coletividade. A Organização Mundial de Saúde (OMS) propõe uma definição cronológica para adolescência, indicando que este é o período compreendido entre os 10 e 20 anos, e considera juventude a fase de 15 aos 24 anos. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) pela Lei nº 8.069 de 13/07/1990, por sua vez, circunscreve a adolescência entre os 12 e 18 anos. Independentemente das nuances de definição, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Médica Brasileira (AMB) na resolução nº 1.666/2003 reconhecem a medicina do adolescente como área de atuação da pediatria.
A puberdade é uma fase biológica de crescimento e desenvolvimento físico e psicológico, que culmina com a maturidade sexual-reprodutiva e estabelecimento da estatura final. Percebam que as definições de puberdade e adolescência guardam similaridades, mas não são idênticas. Referir-se à puberdade nos transporta ao curso de modificações fisiológicas de um período do desenvolvimento. A adolescência encerra um contexto biopsicossocial mais abrangente, transcendendo os aspectos somáticos. Em outras palavras, a puberdade é a base biológica da adolescência, enquanto última também engloba os contextos psicológicos e sociais desta etapa do desenvolvimento.
ACOMPANHAMENTO DO ADOLESCENTE
A consulta ao adolescente é marcada por peculiaridades necessárias a este período ímpar do desenvolvimento. A população de jovens responde por 30% do contingente brasileiro, e isto se traduz na importância de ter um programa de "Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens". O pediatra que se destina ao atendimento de adolescentes deve possuir algumas características, como interesse pelos problemas dessa fase de desenvolvimento, ter empatia e calor humano, não fazer julgamentos, destituir-se de preconceitos e garantir ao seu paciente o sigilo médico. A linguagem utilizada pelo médico deve ser próxima à compreensão do adolescente, evitando-se usar gírias, pois estas dão uma conotação errada à consulta. Além disso, o pediatra deve evitar transferir-se à sua própria adolescência para compreender e atuar junto ao seu paciente, pois as emoções e sentimentos são vivências únicas e diferentes para cada um.
A adolescência pode ser dividida em três fases distintas, com características somáticas, cognitivas e comportamentais próprias, conforme podemos conferir na Tabela 14.
A primeira consulta pode ser feita com o adolescente e sua família, em seguida outra com o paciente individualmente e a terceira com todos para que as orientações necessárias sejam dadas. Durante o atendimento reservado com o adolescente, o pediatra pode aprofundar-se em questões sobre sexualidade, uso de drogas, violência e projetos futuros. O conteúdo das consultas, como, por exemplo, relações sexuais e prescrição de métodos contraceptivos, somente será revelado aos pais com expressa autorização do adolescente. O exame físico pode ou não ser feito na presença dos pais, cabendo ao paciente a decisão de limitar sua intimidade. É importante que o médico tenha, na sala de exame, um outro profissional de apoio cuja função é neutra, apenas de acompanhamento.
Em relação a autonomia, privacidade e confidencialidade do adolescente, o novo Código de Ética Médica em seu Capítulo IX (Sigilo Profissional), garante que: "É vedado ao médico: Art. 74 – Revelar sigilo profissional relacionado a paciente criança ou adolescente, desde que estes tenham capacidade de discernimento, inclusive a seus pais ou representantes legais, salvo quando a não revelação possa acarretar dano ao paciente". Portanto, apenas em situações de risco para o paciente ou para terceiros, o sigilo médico poderá ser quebrado e o problema deverá ser apresentado aos seus pais ou responsáveis. Os procedimentos invasivos, como biópsias e cirurgias devem ter o consentimento dos pais ou responsáveis.
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO FÍSICOS
Como vimos antes, os termos puberdade e adolescência não podem ser empregados como sinônimos. Puberdade se refere exclusivamente aos eventos biológicos que ocorrem nessa fase.
A puberdade apresenta duas modificações biológicas típicas: a maturação sexual e o crescimento físico ou o estirão da puberdade.
A avaliação do crescimento e desenvolvimento é feita através de vários parâmetros clínicos, como descreveremos adiante.
FISIOLOGIA DA PUBERDADE
FATORES INFLUENCIADORES
A sequência de eventos biológicos da puberdade é provocada pela ocorrência de dois eventos hormonais: a gonadarca e a adrenarca. Inúmeros fatores podem influenciar essa cadeia hormonal, a saber:
GENÉTICA
A genética parece exercer grande influência no desenvolvimento puberal do indivíduo, fato corroborado pela constatação de que gêmeas monozigóticas e irmãs não univitelinas apresentam a menarca em idade muito próxima uma da outra e de que pais e filhos têm características sexuais semelhantes (distribuição de pelos e tamanho das mamas).
AMBIENTE