INTRODUÇÃO
As doenças respiratórias representam, nada mais nada menos, do que a causa mais comum de internação no período neonatal. Existem diversas condições que podem levar ao estabelecimento de insuficiência respiratória no RN e é importante frisar que não apenas as doenças pulmonares propriamente ditas irão levar ao surgimento de manifestações respiratórias. Dentre essas várias condições, podemos encontrar causas de origem cardiovascular, metabólica, neurológica e infecciosa. Veja de que maneira isso pode ser organizado no Fluxograma 3.
A maioria das doenças respiratórias apresenta manifestações clínicas desde as primeiras horas de vida e há uma grande sobreposição de sinais e sintomas em doenças diferentes. Na avaliação dessas crianças podemos identificar uma série de manifestações, tais como:
➡️Taquipneia: a Frequência Respiratória (FR) normal de um RN varia de 40 a 60 irpm. A taquipneia é um dos sinais mais precoces da maioria das doenças do período neonatal e é definida pela presença de FR ≥ 60 irpm;
➡️Sinais de desconforto respiratório: diversas alterações podem ser identificadas e é interessante que você conheça qual o significado de cada uma delas:
➡️ Batimento de asas nasais: a respiração do RN é praticamente nasal, e postula-se que a abertura das narinas reduza a resistência à passagem do ar pelas vias aéreas superiores e, assim, diminua o trabalho respiratório;
➡️ Gemido expiratório: resulta do fechamento parcial da glote durante a expiração (manobra de Valsalva incompleta) a fim de manter um volume residual de ar e, assim, evitar o colabamento alveolar ao final da expiração;
➡️ Head bobbing: representa a movimentação da cabeça para cima e para baixo a cada ciclo respiratório, em função da utilização dos músculos acessórios do pescoço;
➡️ Retrações torácicas: as retrações torácicas (intercostais, subcostais, supraesternais e esternais) surgem em doenças que levam a uma diminuição da complacência pulmonar ou a uma obstrução de vias aéreas superiores. Nestas condições patológicas das vias aéreas superiores ou inferiores, a pressão negativa criada no espaço pleural para cada inspiração necessita ser maior para permitir a entrada de ar. Com isso, surgem, inicialmente, as retrações intercostais e subcostais. Com a progressão da doença, o RN aumenta a força contrátil do diafragma e músculos acessórios, levando à protrusão do abdome e retração do esterno e tórax – padrão conhecido como respiração paradoxal.
➡️Apneia: pausa respiratória superior a 20 segundos ou superior a 10-15 segundos acompanhada de bradicardia, cianose ou queda da saturação de oxigênio. A apneia deve ser diferenciada do ritmo respiratório periódico do neonato, que é fisiológico, e tem como característica incursões respiratórias intercaladas com pausas de 5-10 segundos;
➡️Cianose: a acrocianose ou cianose periférica é um sinal muito comum e de caráter benigno no RN, decorrente da exposição ao frio, geralmente. A cianose central, observada em nariz, língua, lábios, é decorrente de hipoxemia grave e uma concentração de hemoglobina reduzida superior a 5 g/dl.
Na avaliação do RN com desconforto respiratório, a gravidade do quadro pode ser estimada pelo boletim de Silverman-Andersen (Figura 7). A presença de notas acima de 4 indicam dificuldade respiratória de moderada a grave.
ASPECTOS GERAIS
A Síndrome do Desconforto Respiratório (SDR), ou Doença da Membrana Hialina (DMH), é causada pela deficiência qualitativa e/ou quantitativa de surfactante pulmonar e representa uma das principais causas de desconforto respiratório no RN pré-termo. Acomete cerca de 60-80% dos RN com menos de 28 semanas e em 15-30% dos nascidos entre 32 e 36 semanas.
FISIOPATOLOGIA E FATORES DE RISCO
A SDR relaciona-se principalmente com uma deficiência de surfactante. Entenda um pouco mais a importância desta substância para a fisiologia respiratória e você compreenderá as consequências de sua carência.
O surfactante pulmonar é uma substância formada por lipídios e proteínas, produzida e secretada pelo pneumócito tipo II; sua função é diminuir a tensão superficial da interface ar/líquido no alvéolo evitando o seu colapso ao final da expiração. O principal lipídio é a fosfatidilcolina ou lecitina (compõe 65% do surfactante) e as principais proteínas são as apoproteínas (SP-A, SP-B, SP-C e SP-D).