ASPECTOS GERAIS
- A Bronquiolite Viral Aguda (BVA) é a infecção viral das vias aéreas inferiores mais comum nos primeiros dois anos de vida e é uma das causas mais frequentes de hospitalização nessa população, sendo que o pico de incidência de internação ocorre entre três e seis meses.
- A definição de BVA na literatura é algo controverso, mas podemos encontrar o quadro sendo caracterizado como o primeiro episódio de sibilância em uma criança com menos de dois anos de idade associado a sinais e sintomas de uma infecção viral.
EPIDEMIOLOGIA
- Como já dito, o quadro é bastante comum.
- O VSR tem distribuição mundial e costuma provocar doença em epidemias anuais. No hemisfério Sul, o período de sazonalidade do vírus costuma ir de maio até setembro. No Brasil, especificamente, a sazonalidade varia em função da região do país: na região Sul, o pico de circulação viral é mais tardio (entre abril e agosto); na região Norte, a maior circulação é no primeiro semestre; nas demais regiões, encontramos um predomínio da circulação viral entre março e julho. Isso não é um mero detalhe, pois terá impacto no período em que será feita a administração do palivizumabe, como discutido adiante.
FATORES DE RISCO
- Alguns fatores de risco associados à bronquiolite incluem o sexo masculino, a ausência de aleitamento materno, a moradia em aglomerações, a baixa idade e o tabagismo materno durante a gestação. O quadro é mais comum nos primeiros seis meses de vida.
- Ao atendermos a criança com este diagnóstico, alguns fatores são considerados de risco para evolução com gravidade. Os mais importantes são:
- Faixa etária < 12 semanas;
- Presença de tabagismo domiciliar;
- Presença das seguintes comorbidades: cardiopatia congênita instável hemodinamicamente (cardiopatias congênitas cianóticas, hipertensão pulmonar), imunodeficiência, doença pulmonar crônica e prematuridade*.
ETIOLOGIA
- O VSR, um paramixovírus de RNA, é responsável por 50–75% dos casos. Outros vírus implicados nos quadros incluem os rinovírus, vírus parainfluenza, metapneumovírus, bocavírus, adenovírus, vírus influenza e coronavírus. Alguns desses agentes podem coexistir com o VSR. Bactérias que causam pneumonias típicas não são causa de bronquiolite. No entanto, uma superinfecção bacteriana pode complicar o quadro e devemos estar atentos para a possível ocorrência desse fenômeno.
- A criança é infectada dentro de casa a partir dos próprios familiares que, quando têm a infecção pelo vírus, apresentam sintomas mais leves, de um simples resfriado comum. A contaminação pelo agente ocorre quando grandes partículas infecciosas são inoculadas na nasofaringe de um indivíduo suscetível. É um dos vírus mais contagiosos que afetam a espécie humana e acredita-se que todas as crianças já tenham sido infectadas ao final do segundo ano de vida. A infecção não promove uma imunidade permanente e duradoura e a reinfecção por esse agente ocorre com uma taxa de 10 a 20% ao longo da infância em cada epidemia anual, sendo menos comum em adultos. Porém, a doença costuma ser menos grave nos episódios de reinfecção.
FISIOPATOLOGIA
- Os quadros de bronquiolite têm início com a infecção viral das vias aéreas superiores. Essa infecção pode ficar limitada a esse ponto da árvore respiratória ou pode atingir as vias aéreas inferiores. A disseminação ocorre tanto pela aspiração de partículas virais quanto pela progressão de uma célula para a célula vizinha. Ao atingir as vias aéreas inferiores, a infecção viral causa necrose celular no epitélio bronquiolar e infiltração peribronquiolar por linfócitos. É evidente que a inflamação bronquiolar pode coexistir com a infecção e a inflamação alveolar, mas o acometimento dos bronquíolos é o que será mais evidenciado na clínica do lactente.
- O processo de necrose e infiltração peribronquiolar deflagrado pela infecção viral acarreta na obstrução e diminuição do calibre das vias aéreas inferiores. Qualquer redução no calibre dessas vias tem grande impacto nas crianças com menos de dois anos. Essas crianças, especialmente as com menos de um ano, possuem condições fisiológicas e anatômicas das vias aéreas que as tornam mais vulneráveis à obstrução dos bronquíolos, com consequente sibilância.